Há muito que os algoritmos potenciam o negócio dos bancos e
não é por acaso que a portuguesa Manuela Velosa, uma das maiores especialistas
mundiais em inteligência artificial, lidera desde 2019 a área de inovação do
maior banco americano, o JP Morgan. Foi isso que levou o banco francês de
investimento Natixis (do universo do Groupe Banque Populaire & Caisse d’Epargne,
o segundo maior grupo bancário francês) para o Porto.
Há já quatro anos que chegaram em busca de talento português para um polo
tecnológico e ainda em janeiro anunciaram que vão transferir 200 postos de
trabalho em França para os escritórios da Invicta, onde têm o seu hub de
inovação já com perto de mil funcionários.
Agora fizeram uma parceria com o Instituto de Engenharia de Sistemas e
Computadores, Tecnologia e Ciência (INESC TEC), no Porto, para encontrar uma
solução para corrigir séries financeiras através de algoritmos. A análise do
risco em sistemas bancários requer um trabalho exaustivo e repetitivo de avaliação
de milhões de indicadores económicos e financeiro - um processo que os
analistas de risco são obrigados a realizar para tomar decisões em operações de
crédito ou gestão de património.
Nesta parceria o banco e o INESC TEC querem automatizar esse processo e
limitar as anomalias. "No Natixis, como em qualquer banco, a monitorização
dos riscos do mercado envolve o processamento de vastos conjuntos de dados,
sendo que parte desses dados pode conter anomalias. De forma a melhorar a nossa
capacidade para detetar e corrigir essas anomalias, juntámo-nos ao INESC TEC
para explorar soluções inovadoras que possam apoiar as tarefas diárias dos
analistas", referiu Florent Soland, diretor do departamento de Informática
do Natixis, em Portugal.
Até agora "os dados eram apresentados ao analista
sequencialmente, num website, e posteriormente analisados individualmente"
e "sempre que o analista se deparava com valores estranhos, era obrigado a
interromper essa análise, para tentar perceber a origem desses valores".
As novas ferramentas devem agora automatizar a deteção
de erros nos chamados valores de vega, ou seja, "valores de ativos
voláteis, e perceber a causa desses erros, com o intuito de facilitar o
trabalho dos analistas na avaliação dos graus de risco do investimento",
explicou João Mendes Moreira, investigador do INESC TEC e professor na
Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP), responsável pelo
projeto.
Os investigadores recorreram a técnicas de data
mining e machine learning, que aplicaram aos sistemas de
avaliação de risco do Natixis, num protocolo que faz parte de um conjunto de
projetos promovido por uma estrutura especializada do INESC TEC, criada para
responder às necessidades das empresas do setor financeiro, nomeadamente no que
diz respeito aos seus processos de digitalização.
O INESC TEC tem desenvolvido soluções de Inteligência
Artificial e a outras tecnologias avançadas, aplicando-as a processos
financeiros, como a análise de risco, a deteção de fraudes, entre outras, além
de se destacar noutros domínios como a robótica ou os serviços (elaborou a app
Stayaway Covid).